Autor: Marcel S. Cabral
Ontem, após a leitura antes de dormir, fiquei refletindo sobre as operações de hoje.
Imaginei acordar cedo, tomar um café da manhã reforçado, fazer uma atividade física para despertar o corpo, ligar a plataforma, ativar as “macros” que desenvolvemos e começar o dia de trabalho de frente para a tela acompanhando o mercado.
Fiz parte do planejado, mas quando abri minha plataforma fui recordado que hoje é feriado nacional, o que significa B3 fechada.
Estava tão focado que me esqueci desse detalhe.
Mudei a programação e fui pesquisar alguns artigos sobre finanças.
Um deles me fez pensar no momento atual.
Temos visto discussões e propagandas ao longo das últimas semanas que levantam uma questão pertinente como pano de fundo: estariam os ativos no seu preço justo?
O acontecimento de ontem, com a cotação do barril do petróleo WTI sendo negociado por um valor negativo pela primeira vez na história, talvez retrate um pouco da preocupação com esse questionamento.
Quem é um pouco familiarizado com algumas técnicas de finanças entende que o valor justo de uma ação, por exemplo, é a expectativa do mercado quanto à geração de caixa no futuro trazida a valor presente por uma taxa de desconto.
A descrição citada apresenta um método clássico que permite avaliar se um papel está caro ou barato.
Nesse modelo a taxa citada incorpora a questão do risco.
Conceitualmente, o risco em finanças pode ser dividido em não sistêmico (ou diversificável) e sistêmico (ou não diversificável).
Sabemos que o não sistêmico trata dos fatores que envolvem as empresas e podem ser controlados (como o gasto com a folha de pagamentos, por exemplo), enquanto o sistêmico trata dos fatores alheios a empresa (de mercado), mas que não são possíveis de controlar e a afetam diretamente, como é o caso do COVID-19.
Considerando essa questão, o artigo que li traz algumas reflexões sobre a questão do risco sistêmico.
Ele se se chama “Understading Systematic Risk – A High-Frequency Approach” e foi escrito por Markus Pelger, professor da Universidade de Standford.
Nele, o autor busca responder as três perguntas a seguir que refletem alguns dilemas entre o risco do sistema e o preço das ações:
- Quais são os fatores que explicam o “comovimento” sistemático (sistêmico) nos ativos individuais?
- Como a estrutura dos fatores sistemáticos (sistêmicos) para ações varia ao longo do tempo?
- Quais são as implicações de precificação de ativos dos fatores sistemáticos (sistêmicos)?
Na tentativa de responder a essas questões ele apresenta três categorias de estudo que avaliam os fatores que envolvem o risco sistêmico.
A primeira é aquela composta apenas pelo fator mercado (o CAPM de Sharpe ilustra essa ideia), a segunda considera os efeitos das firmas (o modelo de Fama-French-Carhart que inclui os fatores tamanho, valor e momento é o exemplo dessa categoria) e a terceira é aquela que inclui fatores com base em análises estatísticas, como é o caso do estudo dele.
Para efeito, com o uso de dados de alta-frequência, seu estudo encontrou quatro fatores que podem melhor explicar o retorno dos ativos, os quais são: o mercado, petróleo, finanças e eletricidade.
Mas é importante notar que os dados desse estudo foram coletados para o período de Janeiro de 2004 até Dezembro de 2016, um cenário bastante diferente (mesmo com a crise de 2008) do que vivemos agora.
Assim, diante da nossa presente realidade, nasce a possibilidade de novos estudos apresentarem elementos ainda não esperados que contribuam com análises mais acuradas quanto ao retorno de determinados ativos.
Isso significa dizer que hoje, saber o preço justo dos papéis, considerando todo o risco ao qual estamos expostos, aparenta ainda ser um dilema aos pesquisadores, analistas e investidores.
Mas mesmo assim, sempre vale ficar de olho na tela.