Lições de Greenspan: além da turbulência dos mercados.

Autor: Marcel S. Cabral

“Que semana foi essa?!”

Esse provavelmente foi um dos pensamentos de diversos agentes de mercado (incluindo o meu) ao ver os índices mundiais derretendo numa velocidade acelerada ao longo dessas duas últimas semanas.

E entre lágrimas e sorrisos sobram as histórias e aprendizados.

Por falar em histórias, alguns acontecimentos desses últimos dias fizeram com que me recordasse de lições repassadas por Greenspan, no seu livro intitulado: “A era da turbulência: aventuras em um novo mundo.”

Embora o título aparente lembrar dos contos de Tintin, as desventuras relatadas compreendem o período em que ele ficou na presidência do FED, a autoridade monetária americana, responsável, basicamente, por controlar a inflação e manter a economia pujante.

O primeiro acontecimento que me fez lembrar dele foi justamente a redução da taxa de juros americana, decidida de modo extraordinário, fora do calendário tradicional, em função da preocupação com a escalada do Coronavírus e seu impacto sobre a economia global.

Os mercados, que vinham subindo numa escalada típica de alpinistas em busca do topo do mundo, escorregou e caiu em um fosso no qual ainda não se sabe o quão profundo é.

Essa escalada, diferente de um dos períodos de quando Greenspan atuava no Banco Central Americano, refletia a expectativa de lucros reais de empresas já consolidadas no mercado e não na valorização das “ponto-com”, como foi a época do ex-presidente do FED.

Naquele período, diante da bolha das “ponto-com”, ele refletiu sobre a ideia da “Exuberância Irracional” que é um conceito que nos blinda e nos orienta a fazer investimentos em empresas que tenham operações sólidas.

Outro acontecimento que me recordou Greenspan, foram as notícias sobre a provável fraude de balanço de algumas empresas com ações em bolsa.

Esse fato gerou o derretimento da cotação das ações de algumas companhias e a valorização de mais de 100% de vários papéis associados, tendo um deles a marca impressionante de mais de 17.000% de valorização em um dia, isso mesmo, em um dia!

Nesse cenário, riscos e oportunidades surgem a todo instante.

E qual a ligação de Greenspan com esse acontecimento?

No seu livro ele retrata a preocupação com a questão da Governança Corporativa da Enron, uma famosa empresa de energia dos EUA que ruiu por fraudes em seus demonstrativos financeiros. Além de Greenspan, um documentário também revela esse caso, ele se chama: “Os mais espertos da sala.”

Nesse caso, a lição que tiramos é de que as empresas não são apenas números. Investir em ações requer, além de conhecer finanças, saber sobre o caráter dos dirigentes.

Sabendo disso, em momentos como os de agora, aprender mais sobre alguns conceitos fundamentais pode gerar novas histórias.  E que na turbulência elas provoquem mais sorrisos do que lágrimas.