Autor: Marcel S. Cabral
Hoje acordei com a seguinte pergunta na cabeça: Como gerir uma carteira de investimentos?
Talvez meu subconsciente trouxe essa questão à tona como reflexo de uma conversa que tive ontem sobre como convencer as pessoas a investir melhor.
É provável que esse convencimento passa pelo campo emocional.
Um processo como esse se assemelha a um processo de venda, onde devemos reter a atenção, despertar o interesse, apresentar a solução e concretizar a venda.
Mas feita essa venda (ou investimento no caso) como fazer para que as pessoas possam melhor gerir seus investimentos?
Aqui reforço a ideia desse texto.
Venho estudando ao longo dos últimos anos um pouco sobre isso e, mesmo assim, vez ou outra algumas dúvidas aparecem.
Administrar uma carteira envolve várias questões e isso é um dilema dos fundos de investimentos, geralmente sob a estrutura de um tipo de empresa chamada Gestora de Recursos ou Asset Management.
Mas essa questão não cabe só aos fundos, algumas pessoas podem pensar em administrar seu próprio portfólio.
Por trás da gestão de uma carteira de investimentos existe a ideia básica de maximizar o retorno e minimizar o risco, mesmo que inconsciente.
Um famoso autor que discute a questão da formação de carteiras é Harry Markowitz. Ele foi tão importante para os estudos nessa área que em 1990 ganhou o prêmio nobel de Economia, junto com Merton H. Miller e William F. Sharpe.
Seu clássico trabalho “Portfolio Selection” publicado no Journal of Finance em 1952 traz algumas questões relevantes sobre o tema.
Ele diz que esse processo pode ser dividido em dois estágios, sendo o primeiro aquele que começa com a observação e termina com as crenças sobre a performance futura dos títulos disponíveis e o segundo que começa com essas crenças e termina com a escolha da carteira.
Vislumbrar qual pode ser a performance futura de determinada companhia na qual desejamos investir é um processo que requer investigar a empresa, seu setor de atuação e o ambiente macroeconômico no qual ela está inserida.
É uma mistura de arte e ciência.
Não temos uma bola de cristal, mas temos dados diversos que auxiliam a traçar cenários os quais as empresas podem apresentar.
Nesse sentido, técnicas distintas, como o uso do modelo de precificação de ativos desenvolvido pelo outro ganhador do prêmio Nobel, William F. Sharpe e, outras metodologias, podem auxiliar a traçar esse cenário.
No segundo estágio, a combinação dos ativos é o desafio para formação da carteira.
Dentre as inúmeras opções, o que escolher?
As ideias de Markowtiz revelam que é possível formar uma carteira com mínimo risco dentro do conjunto de oportunidades existentes, a qual oferecerá um retorno superior a outras carteiras com risco maior.
O risco ao qual ele se refere é medido pela variância, uma medida de variabilidade em relação a um valor esperado.
A combinação dos ativos que irá fazer com que esse risco seja o menor possível considera a correlação entre eles, que quando negativa tende a equilibrar o jogo do ganha-perde.
Selecionada a carteira de menor risco, com o tempo queremos avaliar qual o desempenho dela podendo compará-la a outras possíveis carteiras que podem ser formadas.
Avaliar o desempenho é um aspecto que pode ser feito de modo absoluto, por exemplo, avaliando qual o retorno da carteira dentro de um período, ou de modo relativo, considerando tal retorno em relação a um risco.
Podemos entender que a maneira relativa é a mais fiel dentre os tipos de avaliação. Nesse sentido alguns indicadores podem ser úteis para esse monitoramento.
Talvez o mais conhecido deles seja o índice de Sharpe que mede determinado retorno considerando o risco da carteira, esse mensurado pelo desvio padrão, outra medida de variabilidade.
Outras métricas também têm esse papel de medir a rentabilidade, como o índice de Sortino, índice de Treynor e o alfa de Jensen.
Com a avaliação periódica de uma carteira, questões adicionais podem aparecer, como, por exemplo, as decisões de rebalanceamento, ou seja, do aumento, diminuição ou troca da exposição do portfólio a um determinado título.
E nessa situação podemos, novamente, utilizar algumas medidas a depender de qual é o nosso objetivo com o investimento na carteira, se é tentar performar melhor que um determinado índice, ou acompanhar ele.
O Active Share e o Tracking Error são dois indicadores que contribuem com essa questão.
É fato que a maior parte desses índices não é monitorada pelas pessoas que montam suas carteiras. Por vezes isso é inviável para elas.
O uso dessas medidas requer conhecimento assim como uma estrutura profissional, com ferramentas para trabalhar com bases de dados robustas e tempo hábil para fazer os cálculos e análises.
Mas mesmo assim podemos simplificar esse processo de gestão da carteira em alguns elementos que compreendem: a análise e seleção dos ativos, a avaliação de desempenho, o controle e rebalanceamento que podem ser utilizados tanto pelos fundos assim como pelo sujeito que tem o dia a dia bastante atribulado com outras questões, como o comerciante, por exemplo.
Porém saiba que até mesmo esse comerciante pode se tornar um investidor!