Investidor, observe os indicadores!

Autor: Marcel S. Cabral

Resolvi escrever esse texto depois de ler uma reportagem sobre alguns indicadores utilizados na metodologia de investimento denominada value investing, bastante disseminada ultimamente.

São vários os analistas e casas de análise que a divulgam. Creditam tal metodologia à Benjamim Graham, professor e mentor de Warren Buffet, o bilionário investidor mais conhecido do mundo.

A metodologia de value investing, ou em seu termo traduzido, investimento em valor, considera, basicamente, que a escolha de qual ativo investir, por exemplo uma ação, seja feita pelo fato dela estar sendo negociada abaixo do seu valor justo.

Por exemplo, no momento que escrevo esse texto, a cotação do papel ordinário da Petrobrás (PETR3) é de R$ 30,72. Imagine que o valor justo dela seja de R$ 40,00 (só por hipótese, não é uma análise de fato). Nesse caso existe um valor intrínseco positivo de R$ 9,28 por papel, o que totaliza, em termos percentuais, aproximadamente 30% de retorno se ele sair do patamar atual e ir para o patamar do preço justo.

Ocorre que descobrir qual o valor justo do papel é um exercício que requer o conhecimento de algumas técnicas.

Nesse sentido, as maneiras pelas quais podemos avaliar tal valor justo podem ser divididas em alguns grupos de avaliação, como a relativa e a por fluxo de caixa descontado (FCD), sendo ambas tratadas como fundamentalistas, ou seja, têm como referência os fundamentos das empresas.

A avaliação por FCD compreende projetar qual será o fluxo de caixa futuro da empresa e trazê-lo a valor presente utilizando uma taxa que reflete o custo de capital da empresa, que pode ser tanto o capital próprio, assim como uma média ponderada entre o próprio e o de terceiros. Isso exige um pouco de conhecimento em matemática financeira e em contabilidade que, com um pouco de esforço são plenamente absorvidos.

Trazido tudo a valor presente, se consideramos o capital próprio, dividimos o valor obtido pela quantidade de ações da companhia e chegamos no valor justo de cada papel.

Observe que como tratamos de projeções devemos estabelecer algumas premissas, como, por exemplo, qual será a taxa de crescimento da empresa nos próximos anos.

Tal crescimento pode ter como referência vários fatores mas é fundamental estabelecer que nenhuma empresa cresce eternamente além do que a economia na qual ela está inserida cresce, isso é impossível, pois é dizer que ela ficará maior que a economia.

Feita essas considerações o modelo relativo já trata de fazer comparações entre empresas através de distintos indicadores, conhecidos como múltiplos.

Essa análise é mais simplista, pois podemos trabalhar avaliando algumas divisões, como,  por exemplo, qual o nível de dividendos que as empresas estão distribuindo em relação ao preço do papel (Dividend Yield), qual a relação entre seu valor patrimonial e o preço de mercado (Price-to-book), qual a relação entre o preço de mercado e o lucro obtido (Price-to-earnings), dentre outros.

Mais ainda, existem alguns múltiplos de transação que comparam o valor de determinadas empresas com outras do mesmo setor que foram negociadas. A ideia por trás desses múltiplos é avaliar qual o valor justo da empresa considerando que outra foi adquirida por um determinado valor. Podemos pensar, nesse caso, na relação entre o valor pago por uma empresa e seu EBTIDA (Lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização), além de outras variáveis.

Nesse caso, veja esse exemplo. Imagine que uma empresa que tem um EBTIDA de R$ 100 milhões foi vendida por R$ 1 bilhão, o negócio feito foi de 10 vezes o seu EBTIDA. Assim, uma empresa do mesmo setor que tenha um EBITDA de R$ 30 milhões, pode avaliar qual o seu valor através dessa multiplicação, resultando em R$ 300 milhões.

Metodologias surgem conforme a criatividade dos financistas.

Uma outra nem tanto divulgada pela mídia, compreende o growth investing, ou, investimento em crescimento. A ideia básica é investir em empresas que apresentem alto potencial de crescimento, seja via orgânica ou via aquisições, mesmo que seus múltiplos não sejam atrativos. Isso requer entender mais do seu planejamento estratégico, identificando de que modo ela irá se posicionar no seu setor de atuação e se isso irá gerar vantagens competitivas bastante expressivas ao ponto de ter um crescimento considerável.

É certo que existem algumas considerações tanto no uso dos múltiplos, do FCD assim como no growth investing, mas é certo também que se você quer avaliar qual o valor justo de uma determinada empresa, a fim de investir nela, observar um pouco mais os diversos indicadores certamente te auxiliará a ter melhores resultados.

Bons investimentos!