Autor: Marcel S. Cabral
Quem acompanha o mercado observa que a oscilação dos preços por vezes é reflexo de algum acontecimento no âmbito do congresso nacional.
Nesses últimos dias temos notado um pouco disso. Entre sinais emitidos por parlamentares daqui e dali os investidores vão “recalibrando” suas decisões de investimento, ora comprando, ora vendendo os papéis negociados em ambiente de bolsa.
Dizer que as decisões tomadas no âmbito público, seja ele executivo, legislativo ou judiciário, têm reflexos sobre o mercado de investimentos provavelmente é algo que a maioria de nós tem ciência. Mas mesmo assim, relacionar os fatos que ocorrem ao provável comportamento dos mercados é uma questão chave para tomarmos decisões mais acertadas quando pensamos em operações em bolsa de valores.
Em teoria, os investidores tomam suas decisões baseados em qual é a perspectiva futura do papel que estão negociando, seja comprando se acreditam em um potencial favorável para o papel, seja vendendo se imaginam um cenário desfavorável.
Relacionar os acontecimentos políticos às decisões dos investidores requer entender quais são de fato as políticas que influenciam o mercado.
Basicamente, são as políticas econômicas que têm reflexo sobre as decisões de investimento. Sabendo que há uma discussão mais profunda sobre o tema e não a limitando, podemos conceituar que tais políticas tratam das decisões de um governo sobre questões que têm consequências sobre a renda, emprego, câmbio e outros aspectos econômicos.
Uma das formas de classificá-la compreende dividi-la em: fiscal, monetária e cambial.
A fiscal é aquela que trata dos gastos e arrecadações de um governo. A discussão sobre a reforma da previdência, tributação de empresas e pessoas são exemplos de ações que têm consequência sobre a questão fiscal de um país. Em resumo, o equilíbrio fiscal que tanto é disseminado nas mídias compreende um balanço entre o que um governo arrecada e o que ele gasta. Tal como em nossas casas, se as despesas superam as receitas teremos problemas financeiros. Nessa situação nos tornamos insolventes, não pagando nossos credores para suprir outras necessidades prioritárias, mas os afugentando também. Se há uma tendência de chegar nessa situação, algo precisa ser feito e, o exemplo nacional mais relevante sobre o caso agora é a reforma da previdência.
Talvez por isso que quando há sinais de que ela terá dificuldades de ser aprovada o mercado cai, como consequência da revisão das expectativas dos investidores sobre a situação fiscal futura do país.
É certo que ainda há vários pontos a discutir sobre a reforma, mas se estamos diante de uma potencial situação de insolvência nacional, dado que hoje temos algo como 75% do PIB comprometido com a dívida pública e em um caminho ascendente, é coerente que temos que estancar essa sangria fiscal.
Outra política a qual os investidores analisam é a monetária. Essa trata basicamente dos meios de pagamento em circulação em uma economia. O olhar mais atento a ela talvez esteja associado ao risco inflacionário que uma má gestão dessa política possa causar. As decisões que vemos do Copom sobre a meta Selic são exemplos de ações sobre essa política que, em suma, servem para conceder mais ou menos recursos à população, o que impacta o consumo e produção.
A cambial, como o próprio nome diz, é a que trata do câmbio de uma nação. A taxa de câmbio tem fatores relevantes para a formação das reservas internacionais assim como incentivo para o comércio internacional. Hoje temos reservas cambiais da ordem de US$ 390 bilhões de dólares, um caixa usado para garantir certa estabilidade à cotação da nossa moeda.
Sobre essas três políticas, os olhos dos investidores estão atentos. Qualquer sinal emitido que possa provocar reflexo no equilíbrio fiscal, monetário ou cambial é um alerta para que eles revejam suas expectativas. Se soubermos como relacionar tais acontecimentos às condições macroeconômicas (que nada mais são do que entender essas políticas), certamente estaremos prontos para reagirmos de um modo mais eficaz diante das recentes picuinhas entre os parlamentares.
Explicada essa questão, nós desejamos que todos tenham um bom início de semana, até aqueles que estão lavando roupa suja pelas mídias sociais!