Investir é futurologia?

Autor: Marcel S. Cabral

Futurologia é um termo intrigante. Faz lembrar os contos de ficção científica a qual já vimos em algum momento da vida.

Provavelmente alguns de vocês se lembram dos Jetsons, aquela família "chefiada" pelo George, que vivia em uma época futurista na qual haviam carros voadores, funcionários robôs, interações entre seres humanos e outras espécies, dentre outros inovações que na época pareciam surreais.

Outros devem se recordar dos argumentos da Mãe Dináh, a astróloga que fazia previsões sobre o futuro de algumas personalidades.

Mas futurologia vai além. Inclusive existem correntes de pensamento distintas sobre o termo. De modo resumido, os futurólogos, como assim são chamados aqueles que tentam vislumbrar um cenário que viveremos daqui algum tempo, chegam às suas conclusões elencando situações possíveis, prováveis e desejáveis de acontecer.

Alvin Tofler, autor de diversas obras, dentre elas o clássico “A Terceira Onda”, considerou provável a revolução digital que vivemos hoje, com uma abundância de informações para lidar, que hoje a denominamos de Big Data.

Hawking, Michio Kakuo, dentre outros teóricos de distintas áreas, formularam suas teorias inspiradas em questões científicas vislumbrando possíveis eventos futuros, sejam benéficos ou não.

Já Einstein deve ter desejado viajar em uma nave que alcançava a velocidade da luz, mas certamente sabia da impossibilidade disso ocorrer em seu tempo.

E quando falamos de investimentos, que reflexões fazemos pensando no termo futurologia?

Podemos tecer a hipótese de que investir é um evento de futurologia.

A decisão de poupar agora para consumir futuramente é um exercício que parte de um cenário possível, provável ou desejável de acontecer, seja ele consciente ou não para quem decide investir.

Ocorre que, no caso de investimentos, em algumas situações, ficamos presos ao cenário que desejamos que ocorra.

Já retratei aqui alguns relatos de Kahneman sobre os vieses que apresentamos quando decidimos investir. E, pensando nos elementos da futurologia, temos que ter a clareza da distância entre o desejável, o possível e o provável.

Desejo é diferente de possibilidade que é diferente de probabilidade. Como exemplo, pense no maior prêmio de loteria que existe. Ganhar ele é uma possibilidade, mas a probabilidade é muito baixa e o seu desejo, certamente, muito elevado.

Desse modo como podemos contornar nossos desejos e investir em possibilidades mais prováveis de ocorrer?

Pensando em renda variável (ações, por exemplo) o uso da análise fundamentalista, de metodologias de valuation e outras técnicas, pode contribuir para identificar, com uma menor taxa de erro, os possíveis e prováveis cenários que podem ocorrer.

Já em renda fixa (títulos públicos, por exemplo), vislumbrar cenários futuros já requer o uso de outras metodologias, uma combinação da matemática financeira com a probabilidade de calote dos emissores são algumas delas.

Tais técnicas contribuem a vislumbramos contextos mais realistas, afastando a cegueira que nossos desejos podem provocar.

Nesse sentido, lembre-se de Darwin e sua teoria da evolução das espécies. Em algumas situações é melhor se adaptar ao ambiente, ambiente esse que é mais possível e provável de ocorrer, mesmo que vá contra nossos desejos.