Autor: Marcel S. Cabral
Na atividade de trader sabemos que a cada dia uma janela de oportunidades se abre e devemos estar preparados.
O nosso preparo é tanto técnico quanto comportamental. Fatores psicológicos como excesso de confiança entre outros vieses, influenciados ou não por eventos momentâneos, podem atrapalhar o seu operacional, e aí devemos ter um gerenciamento de risco que funcione.
Fui vítima das minhas próprias decisões na semana passada. Usando o jargão do mercado, fui “stopado”. Já vi traders perderem (e ganharem) em um dia muito mais do que perdi (ganhei) em uma semana, mas certamente isso não é desculpa. Cada qual tem seu operacional, sua tolerância a risco e, em funcionamento ou não, a sua gestão de risco.
Comecei a semana bem, usando uma nova estratégia, ganhei confiança e aí me comprometi. Provavelmente influenciado por emoções com fatos que envolvem o período, me expus demais e não enxerguei coisas que revendo depois se mostraram óbvias.
Quando vieses cognitivos atrapalham o seu operacional e você não consegue identificar isso em tempo, as travas do seu sistema de gestão de risco têm que estar funcionando perfeitamente. Com isso você vai dizer algo como: Ufa, ainda bem!
Um sistema de gestão de risco é algo amplo e um dos seus inputs é a sua tolerância a risco. Numa abordagem teórica simplista existem três conceitos básicos que definem o perfil de tolerância das pessoas em relação ao risco, sejam eles: avessos, indiferentes ou propensos.
Se entendermos que risco é uma medida de variabilidade em relação a um resultado que estamos esperando, certamente, todos nós, traders, somos avessos ao risco, ou seja, não estamos dispostos a ter um resultado (negativo) diferente daquele ao qual estamos esperando.
Provavelmente essa ideia foge do senso comum de que somos propensos ao risco. No extremo, um sujeito propenso é alguém como um paraquedista que salta sem checar seu velame. Ele simplesmente faz a ação assumindo tudo que pode acontecer além do esperado.
Entretanto, numa visão mais ampla, falar de tolerância ao risco vai além da simples concepção de avesso, indiferente e propenso. Existem métricas para medir a variabilidade dos resultados esperados (o risco) como o desvio padrão, o beta, o Var (Value at risk), downside-risk, dentre outras que podem contribuir para que você defina o seu nível de tolerância.
Essas métricas podem te auxiliar a estabelecer parâmetros de quanto você é capaz de suportar emocional e financeiramente uma perda não esperada, mas provável.
Apesar delas, é importante dizer que nada adianta mensurá-las se você não implementar o seu sistema de gerenciamento de risco. Como exemplo, de que vale você definir que suporta perder até X reais por dia, mas não coloca as ferramentas de controle para quando atingir esse patamar parar de operar.
Tem horas que aprendemos com dor a falta de um bom sistema de gerenciamento de risco.
Portanto não atue como um paraquedista que salta sem checar o seu velame. Defina minuciosamente as etapas de seu sistema e implemente-o para que na hora do salto, o seu check visual e funcional não tragam nenhuma surpresa desagradável.