Autor: Marcel S. Cabral
No universo das operações em bolsa de valores existe uma série de fenômenos que são estudados por pesquisadores do mundo todo.
Lendo uma pesquisa dias desses quis comentar sobre uma em particular, mais como curiosidade pra dividir do que uma resenha do estudo.
O trabalho que despertou a atenção chama “Day of week effects in Asian Emerging Stock Markets: A Comparative Study”, feito por Sadia Saeed, uma pesquisadora do Paquistão.
É um estudo publicado em junho de 2017 que avaliou os efeitos dos dias da semana sobre o retorno na bolsa de valores em três mercados emergentes da Ásia: Paquistão (Karachi Stock Exchange), Índia (Bombay Stock Exchange) e Malásia (Kuala Lumpur Stock Exchange).
Algo que achei interessante é o mercado analisado, ou os mercados nesse caso. A ideia de estudar a bolsa do Paquistão levanta curiosidades e ajuda a gente a “pensar fora da caixa” reforçando a fuga do estereótipo de que a Bolsa de Valores não é para todos. Digo isso porque em conversas com amigos que não são da área já escutei algo como:
- Mas bolsa no Paquistão?
Lembremos que bolsa de valores é um mercado que reúne investidores. Então, onde há gente disposta a investir, há um mercado de negociação. E para complementar, o Paquistão é um país quase que com as dimensões populacionais equivalentes ao Brasil, com as diferenças culturais que bem sabemos existir.
Voltando ao estudo, Saeed contextualizou sua pesquisa abordando famosas teorias do universo de finanças, incluindo a teoria do Passeio Aleatório (Random Walk), a teoria dos Mercados Eficientes e as Finanças Comportamentais.
O que a autora avaliou entra em contradição com as duas primeiras que são consideras teorias clássicas de finanças.
O efeito do dia da semana é uma anomalia de calendário estudado por diversos autores. Além dele existem outras anomalias de calendário que são pesquisadas mundo afora como, por exemplo, o efeito Janeiro e o efeito Feriado.
Tratando dos dias da semana ela relata que alguns fatores são citados na tentativa de explicar o porquê desse efeito ocorrer, destacando a hipótese da liquidação das ações, do processamento de informação e da divulgação de informação.
Resumidamente, e sem entrar em tecnicidades, a primeira diz respeito aos mecanismos das bolsas para negociação e liquidação dos títulos, a segunda relata que o tempo dos gestores de recursos não é o mesmo para planejar as operações e a terceira que o padrão das informações divulgadas ao longo do fim de semana não é o mesmo, em outras palavras, que o tempo para a divulgação de boas e más notícias é totalmente diferente.
Embora reforçando a explicação dessas anomalias, os resultados do trabalho de Saeed mostram que nos mercados pesquisados os coeficientes encontrados são mais insignificantes que significantes o que a leva a concluir que o efeito dia da semana não ocorre com obviedade nesses mercados.
Trazendo essa realidade para a América Latina, um estudo mais antigo, de abril de 2012, intitulado “Day of the week effect in Latin American Stock Markets”, feito pelo pesquisador chileno Wener Kristjanpoller Rodriguez, avaliou esse efeito para as seis maiores bolsas do continente, incluindo o Brasil. O estudo dele concluiu que tanto o efeito segunda-feira (retornos mais baixos) quanto o efeito sexta-feira (retornos mais altos) foram observados no período avaliado.
Notadamente, embora semelhantes, os mercados de todo o mundo tem suas distinções entre si. E vale lembrar que hoje, dia de bolsa brasileira batendo recordes de máximas, ainda é segunda-feira!